Os investigadores dizem que a urbanização de áreas outrora
selvagens contribui para o surgimento de doenças zoonóticas, aquelas que passam
de animais para humanos, como é o caso do coronavírus, que os cientistas
acreditam ter sido originado em morcegos antes de passar para os homens na
província de Hubei, em rápida urbanização na China, provavelmente através de
uma terceira espécie.
Lapola, que estuda como a atividade humana irá remodelar os
futuros ecossistemas das florestas tropicais, diz que os mesmos processos estão
a acontecer na Amazónia.
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Photo//Lusa |
Se não mudarmos os nossos hábitos, poderemos ter pandemias ainda piores
"A Amazónia é um
enorme reservatório de vírus", disse ele à AFP em entrevista. "É melhor não tentarmos a sorte."
No ano passado, no primeiro ano de mandato do presidente
Jair Bolsonaro, o desflorestamento na Amazónia brasileira subiu 85%, para mais
de 10.000 quilómetros quadrados, uma área quase do tamanho do Líbano.
A tendência continua este ano. De janeiro a abril, foram
destruídos 1.202 quilómetros quadrados, estabelecendo um novo recorde para os
primeiros quatro meses do ano, segundo dados baseados em imagens de satélite do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
São más notícias, não apenas para o planeta, mas também para
a saúde humana, disse Lapola, que é doutor em modelagem de sistemas terrestres
pelo Instituto Max Planck, na Alemanha, e trabalha na Universidade de Campinas,
no Brasil.
"Quando se cria
um desequilíbrio ecológico, e é quando um vírus pode passar de animais para
humanos”, disse ele.
A desflorestação ajuda a transmissão de doenças de animais para seres humanos
Padrões semelhantes podem ser observados no HIV, Ebola e
dengue, " vírus que surgiram ou se
espalharam em grande escala por causa de desequilíbrios ecológicos",
afirmou.
Até agora, a maioria desses surtos concentrou-se no sul da
Ásia e na África, frequentemente associados a certas espécies de morcegos.
Mas a imensa biodiversidade da Amazónia pode tornar a região
"o maior reservatório de coronavírus
do mundo", disse ele, referindo-se aos coronavírus em geral, não ao
que está causando a atual pandemia.
"Essa é mais uma
razão para não usar a Amazónia irracionalmente, como estamos fazendo agora",
disse ele.
E mais uma razão para se alarmar com o aumento do desflorestamento
por agricultores, mineradores e madeireiros ilegais, acrescentou.
Bolsonaro, um cético das mudanças climáticas que deseja
abrir terras indígenas protegidas para mineração e agricultura, enviou o
exército para a Amazónia, nesta semana, para combater o desflorestamento, num
raro movimento protetor.
Mas Lapola disse que prefere ver o governo reforçar a
agência ambiental existente, o IBAMA, que teve cortes de pessoal e orçamento
sob Bolsonaro.
"Espero que, no
próximo governo, prestemos mais atenção na proteção do que pode ser o maior
tesouro biológico do planeta", disse Lapola.
"Precisamos
reinventar o relacionamento entre nossa sociedade e a floresta tropical".
Caso contrário, o mundo enfrentará mais surtos - "um processo muito complexo e difícil de
prever", disse ele.
Dez ameaças á sobrevivência da humanidade
Referencia//ScienceAlert
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